sexta-feira, 7 de agosto de 2020

Seja bem vindo!

 Bem vindo!

Um sábio da antiguidade escreveu que "não há fim", na quantidade de livros que se escreve (foi o escritor do livro bíblico de Eclesiástes, o rei Salomão). Se isso é verdade com livros, é também apropriada a aplicação no que diz respeito a música. Ela, para muitos, é apenas um entretenimento como outro qualquer. Mas, que entretenimento é capaz de nos transportar para um momento remoto no passado, uma época da nossa vida que talvez estivesse bem trancada numa gaveta de memórias? Qual passatempo atual consegue atravessar as barreiras naturais de um ser e, com intensidade, alterar-lhe os sentimentos? a verdade é que a música transcende a limitada definição de entretenimento. Trata-se de um universo dentro de uma galáxia, de um planeta, de um coração. Ela está na essência do ser humano, antes mesmo dessa essência existir. De fato, por mais que nos orgulhemos dessa maravilhosa "invenção" humana, seria mais correto classificá-la como descoberta. Pois certamente a sua invenção não é obra humana, mas DIVINA.

Vou compartilhar, nesse blog, histórias de estilos, e artistas que me fizeram mergulhar fundo nesse universo, e nele descobrir  harmonias e dissonâncias, as quais guardei em um baú. Vou abrí-lo. Te convido a descobrir o que nele há!


DESTAQUE:

Música e história - parte um

Música e história - Parte dois

Motown - um motor negro na música


Postagens: (No menu a direita, elas estão agrupadas por meses)

"Essa é pra você" - Músicas que prestam homenagens

Folk - A folclórica moderna música mundial

Rock - A história

Alicia Keys - Um olhar sobre a sua carreira

MPB - a história

Nina Simone: apagaram uma estrela

New Wave. O Rock mais "alegre"

Música sertaneja - A história

Queen - A história


Skank - Um olhar sobre a sua carreira

Skank - Um olhar sobre a sua carreira

(Na série de posts "um olhar sobre a sua carreira", eu escrevo as impressões que fui tendo ao logo dos anos, sobre a carreida de algum artista que eu acompanho. E passo essas impressões para o artista, em um "bate-papo imaginário. O artista da vez: Skank)

Recentemente fiz uma gravação com uma amiga de uma das suas músicas: "Algo parecido". E ao gravar, acabei viajando num período profundo de nostalgia. Percebi que acompanho vocês há mais tempo do que eu tinha noção. Essa história começou no final da minha infância. Querem saber como foi que uma criança, depois adolescente, adulto, e hoje músico, viu (e ouviu) vocês em todos esses anos?

Skank - 1993
Tudo começou em 93. A banda surgiu dois anos antes, em 1991, em Belo Horizonte. Eu, criado em Salvador - BA, uma cidade onde o reggae, o samba reggae, e a Axé music disputavam espaço com o sertanejo goiano e paulista, e o samba carioca e mineiro, que a essa altura estavam tomando conta do país. Era o ano de Daniela Mercury, Raça negra, Zezé e Luciano, e muitas outras coisas que disputavam a atenção dos ouvintes nas FMs. Nessa época, eu preferia dois dos estilos acima: O reggae e o Samba Reggae, além do rock dos anos 80, que ouvia muito. Passava horas ouvindo músicas no rádio e gravando as minhas favoritas em fitas k7. Foi quando ouvi vocês pela primeira vez. A música? "Homem que sabia demais".


O Interessante é que esse disco foi lançado por vocês de maneira independente em 1992, com o título "skank". Mas logo a sony percebeu o potencial da música e relançou o disco. Confesso que esse reggae me atingiu em cheio. Fui atrás de uma fita (isso mesmo, fita) para ouvir todo. Não lembro como consegui, mas ouvi. Um som que misturava duas coisas que gosto muito:O rock oitentista, e o reggae. Isso era de se esperar, porque vocês eram, na verdade, originalmente uma banda de reggae. Inclusive, o nome da banda foi tirado de uma música de Bob Marley: Easy Skanking. Pronto: passei a gostar muito do som da banda. A música que mais tocou desse disco foi "Tanto", outra música que mostra a influência do Reggae jamaicano no som do grupo. Mas com "homem que sabia demais" foi amor ao primeiro play. Uma linha de baixo marcante, típica de boas bandas de Reggae, que eu amava ouvir na caixa de som de madeira do aparelho 4 em 1 lá de casa. Foi dada a largada para uma carreia de sucesso, e eu, no retrovisor, fui seguindo de perto.

"Calango" - O sucesso nacional (inevitável) chegou merecidamente!
No ano seguinte, saiu o disco que alavancou vocês ao topo das paradas: CALANGO. A influência do reggae, e do dance hall jamaicano ainda eram fortes, mas nesse disco, vocês trouxeram as raízes tradicionais locais em algumas canções, além de temas rurais, junto com um bom BRrock. Esse disco emplacou muitas músicas nas paradas de sucesso. As canções  "Jack, Tequila", "Te ver", "Esmola", "O Beijo e a Reza", "Pacato cidadão", "Amolação", E "É proibido fumar", foram veiculadas pelas emissoras de rádio e TV na época. Ou seja, das onze canções do disco, SETE incrivelmente fizeram sucesso, e até hoje estão entre as mais conhecidas de vocês, e entre as minhas favoritas também. Para quem ainda não os conhecia, foi um belo"MUITO PRAZER!" 

Calango - No youtube

O samba poconé - Eu posso discordar da maioria?
Em 1996 saiu um disco que levou vocês longe. Bem longe! O samba Poconé. Nessa época, vocês já eram uma banda reconhecida. E o disco foi um grande sucesso. Nacional e internacional. O disco trouxe alguns hits: "É uma partida de futebol", "Eu disse a ela", "Tão seu", e o maior sucesso do disco: "Garota nacional".  Nesse disco vocês trouxeram muito mais a influência do rock do que do reggae. Uma mudança de estilo que foi bem aceita nacional e internacionalmente. Mas sendo sincero, com vocês, da banda: O disco é bom, mas eu ainda prefiro o disco anterior.

                                  
                                  É uma partida de futebol



Siderado -  Rock "britânico", metais, e quase nada de reggae
Em 1998, no auge dos meus 16 anos foi lançado o disco SIDERADO. Esse eu não ouvi completamente quando saiu, mas algum tempo depois, por uma questão de logística (Eu logisticamente não tinha dinheiro para comprar o CD). E quando ouvi, pessoal, confesso: achei um bom disco de outra banda. É que não era bem o som que eu estava esperando. O disco trouxe três hits: "saideira", mandrake e os cubanos" (Que foi assunto de uma aula de português, dada por minha professora, que amava o som de vocês), "saideira", e a música de vocês que mais me pedem pra tocar no violão: "Resposta".
Confesso que não entendi muito a sonoridade do disco. Na época, nem sabia dizer se gostei ou não. Depois de anos, descobri que vocês trocaram os produtores do disgo, por dois britânicos. Provavelmente essa era a razão da nova sonoridade de vocês. Esse foi o último disco de vocês que eu ouvi na íntegra (antes da internet, claro. Depois da net, já ouvi todos). Passei a acompanhar vocês pelo que saia na mídia.



Resposta


Maquinarama
Esse disco saiu em 2000. Três músicas dele foram veiculadas pela mídia, mas não com o mesmo impacto de outrora. Gostei de todas: 
 "Três Lados", "Balada do Amor Inabalável" e "Canção Noturna". Havia uma mistura interessante de influência eletrônica com elementos acústicos. Estava então com 18 anos e começando a tocar violão. Amei poder tocar "três lados". (uma versão simplificada, mas valeu)




Ao vivo MTV
Um registro dos sucessos do Skank foi lançado em 2001, no disco MTV AO VIVO. Além de reunir alguns dos maiores sucessos da banda, o disco MTV AO VIVO trouxe a música "Acima do sol", que foi o sucesso do Skank naquele ano. Nessa época a MTV estava em tv aberta, e eu (como um jovem fã de música) acompanhava durante longas horas do dia essa emissora de videoclipes. Foi bom ver a banda ao vivo e os arranjos ao vivo ficaram muito bons. Outras músicas voltaram a fazer sucesso por causa do disco ao vivo, a exemplo de "tanto", do primeiro disco.

Acima do sol



Cosmotron
Esse disco saiu em 2003. Nele houve um sucesso marcante, e uma das músicas de vocês que eu mais gosto. E como foi bom aprender a tocar ela no violão. Estou falando de "Dois rios". Outro sucesso do album é: "Vou deixar". E tem uma música que eu acho bem interessante, pela questão de "ponto de vista". "Formato mínimo".
Dois rios


Vou deixar
Radiola (2004), Carrossel (2006), estandarte (2008)
Os anos passavam, os cds se sucediam, o sucesso alternava-se com discos pouco expressivos, e eu acompanhava vocês à certa distância. Na coletânea RADIOLA, vocês fizeram uma versão de "VAMOS FUGIR". O que mostrou que vocês estavam cada vez mais distantes do reggae, pois tornarm esse reggae de Gil, num rock do bom. O disco CARROSSEL passou quase despercebido. A música que tocou um pouco foi "Mil acasos". Acho que o momento não estava legal para as bandas longevas do pop rock nacional. Confesso que foi aí que comecei um distanciamento, não pela qualidade de vocês em si, mas acho que, nesse período, vocês estavam no hall de artistas que eu gosto, mas não no room dos meus artistas favoritos. Achei um disco livre, mas não posso dizer que gostei dele. Não na época, ao menos. O disco posterior, ESTANDARTE, saiu quando eu já tocava violão há um tempo. Trouxe duas músicas que até hoje gosto muito de tocar: "Sutilmente" (A primeira música que aprendi a tocar usando um capotraste), e "Ainda gosto dela (Com a belíssima contribuição de NEGRA LI. Deviam ter aproveitado e convencido ela a DEIXAR DE VEZ O RAP). O "ESTANDARTE" me fez relembrar que eu gosto muito do som de vocês.

Ainda gosto dela

Velocia
Vocês lançaram três coletâneas nos anos posteriores ao "ESTANDARTE". E por fim, chegamos no VELOCIA, de 2014. Esse eu já pude ouvir todo, afinal, a gtrande rede já era grande nessa época. O que posso dizer? Senti um grupo nostalgico ao ouvir esse album. Tive a impressão de que vocês estavam bebendo de novo na fonte da juventude, com um pouco daquela influência de Reggae dos primeiros discos, e muitos outros elementos que trouxeram ao longo da carreira. Se gostei do disco? Esse é um daqueles discos que fui digerindo aos poucos, como quem toma uma sopa quente. Mas os hits foram poderosos: "Ela me deixou" (Aquele ska gostoso de ouvir), e o maior sucesso do disco, uma verdadeira aula de geografia bagunçada no refrão, mas que trás a sutileza dos bons arranjos que vocês sempre fazem, e que ficam lindos no violão: "Esquecimento".

Ela me deixou

Esquecimento
Mas aí vieram as notícias, rumores, de uma possível pausa na carreira da banda (Traduzindo, a banda iria acabar). Bem, confesso a vocês que, após a conformação dessa informação, fiquei um tanto decepcionado. Afinal, de 1993 até 2018, já tinham se passado 25 anos. 25 anos que escuto vocês, que passei a admirar as linhas de baixo de Léo Zaneti, as composiçoes da parceria Samuel / Chiquinho Amaral, 25 anos em que eu saí de um garoto que gostava dessa banda de Reggae, e me tornei um músico que ama essa banda e suas composições bem arranjadas. Enfim, tudo tem seu fim.

Mas aí, nesse mesmo ano, 2018, vocês lançaram uma música que, além de me fazerem lembrar do quanto eu gosto de vocês. Foi a música que eu mencionei no início dessa nossa conversa: "Algo parecido".

Algo parecido
Essa música realmente me fez lembrar o quanto eu gosto de vocês, o quanto, com todas indas e vindas, vocês sempre estiveram aqui, no meu toca fitas, ou na minha tv, ou no cd player, e agora, no meu bluetooth. Após essa gravação com minha amiga, fui relembrar todas as músicas de vocês que eu gosto. E são MUITAS! De fato pessoal, o que posso dizer: Muito obrigado por todos esses anos que vocês tornaram muito mais agradável o ato de "APERTAR O PLAY", ou de DEDILHAR UMA BOA MÚSICA. Quase sempre eu estou ouvndo vocês. Ou "algo parecido"!

quinta-feira, 21 de maio de 2020

Música e história - Parte dois

A quantidade de músicas que narram fatos históricos é imensa. Mas uma coisa interessante é: nem todas elas são assim percebidas, ou devido a sua complexidade, ou mesmo por serem subestimadas . Nesse post vamos falar de algumas dessas músicas, e descobrir riquezas em algumas letras, que talvez tenham passado abaixo do radar da  maioria dos ouvintes.

Abaixo do título das músicas, há links para que possa ouvir e conhecê-las. A sugestão é: caso não conheça a música, escute-a primeiro. Depois, leia a sua história,  e se possível, escute novamente, prestando atenção nos detalhes presentes na canção que fazem referência aos fatos que você acabou de ler.

Etiópia - Edson Gomes



Um fato histórico pouco conhecido, mas que foi musicado como forma de protesto por Edson Gomes, cantor de reggae baiano.           
Durante a década de 1930, as chamas da segunda guerra já estavam acesas, e o conflito era inevitável. A Alemanha nazista e Itália fascista eram aliadas. A liga das nações era o organismo resposável por manter a paz mundial, e mediar conflitos, mas falha no seu propósito. Um dos primeiros a manifestar no campo de batalha suas intenções agressivas foi Benito Mussolini, primeiro ministro da Itália. Em dois de outubro de 1935, ele marcha com seu exército poderoso contra a Etiópia, na África, com o objetivo de anexá-a a outras províncias italianas na região. Apesar da resistência, até surpeendente, dos etíopes, não havia como essa pobre nação impedir o rolo compressor fascista. Contra guerreiros que usavam um pouco mais do que lanças e cavalos, o exército da Itália avançou com tanques, metralhadoras, bombardeios aereos e armas químicas. Assim, com grande perda de vidas, militares e civis, a etiópia cai, o fascismo mostra sua a força, e o mundo fica em estado de suspense. Esse ataque de Mussolini, e a fraca atuação da liga das nações para puní-lo, acaba por dar mais coragem a Adolf Hitler, nas ações que tomaria a seguir, invadindo países, sem resistência ou punição por parte da liga. Por isso, muitos historiadores consideram essa invasão como parte da história da segunda guerra mundial, que começou oficialmente quatro anos depois. 
Edson Gomes, nessa canção, fala dessa luta desigual de lanças contra metralhadoras, mas também critica o fato de que quase nada disso é ensinado nas escolas.



Madagascar Olodom




O olodum, bem como outras bandas de samba reggae do início dos anos 80, trazia em muitas de suas músicas a história da África, do Oriente médio, e do Brasil Colônia, bem como críticas sociais. 
A música "Madagascar olodum" é uma das músicas mais surpreenentes sobre fatos históricos, pois ao mesmo tempo que conta, em ordem não cronológica, a história das diversas civilizações que deram origem a população da ilha de Madagascar, na África, bem como dos reis que sobre ela dominaram, também faz uma critica um tanto velada a escravidão "justificada", e ao aparthied, regime que separava negros e brancos na África do sul. São tantos detalhes nessa letra, que vamos nos concentrar nos principais:

"Criaram-se varios reinados": Essa simples frase já diz muito. Diferente de ser uma terra de bárbaros, como às vezes se ensina nas aulas de história ocidentais, Madagáscar era uma terra de reinos, subdividida em grupos geopolíticos, como por exemplo, os Merinas, que dominaram a Ilha por 103 anos. Um rei dos Merinas, Rambosalona, acreditava ser filho dos deuses, e capaz de transmitir para sua descendência  essa virtude. Assim, era o tal "vetor saudável".

"A rainha Ranavalona",  começou seu reinado em 1810, e governou com mão de ferro sobre Madagáscar. Tida como tirana, quis defender os costumes mitológicos do seu país, e por isso perseguiu e tentou expulsar os missionários cristãos da Ilha. Executou muitos desses e outros inimigos.  Mandou envenenar seu marido, e assim passou a ser "soberana da sociedade". Reinou por 33 anos.

"Rei Radama... levava seu Reino a bailar". Filho de Ranavalona, teve um reinado oposto a tirania de sua mãe. Permitia a liberdade de cultos, o comércio estrangeiro, instituiu um parlamento ( inedito, entre os psíses africanos), pôs fim ao escambo ao criar uma moeda nacional, e concedeu perdão a muitos que estavam presos injustamente pela perseguição do reinado anterior. Realmente levou o povo, 'seu Reino, a bailar'.

"Bantos, indonésios, árabes integram a cultura malgaxe". Os indonésios foram os primeiros a habitar a Ilha, dando origem a população malgaxe, como os habitantes de Madagáscar eram chamados, chegando nela cerca de 300 anos antes de cristo. Também vieram os bantos, da África continental, e os árabes. Essa mistura de gente se assemelha com a "raça varonil" que deu origem a população do Brasil. 

Mas, apesar de toda essa história, por fim os vazimbas (Como eram chamados os primeiros habitantes da Ilha, e que, na música, representam todos os nativos de Madagáscar), "foram vencidos pela invenção". Os europeus há muito lidavam com o metal, e dele forjavam suas armas de matança. Essa "invenção" do metal fez com que, por fim, os europeus subjugassem os nativos de Madagáscar, cujas ferramentas eram basicamente de barro recosido.

"Yê, Sakalavas ona  ê". Os Sakalavas, mencionados na música, são uma grande etnia que esteve em guerra com os Merinas durante muito tempo, e que dominaram sobre Madagáscar por certo período.  "Sakalavas ona  ê", significa, com possíveis variações, o jeito (a maneira, o modo de fazer) dos sakalavas.

Depois de contar em uma música com letra curta uma história secular, o compositor se volta aos problemas da sua época, e faz referência ao apartheid, contra o qual faz protestos, e evoca igualdade entre os povos. 
Então,  essa música parece querer mostrar que não é correta a versão europeia de que a áfrica era habitada por povos bárbaros, sem leis, que foram escravizados, e "civilizados". Os colonizadores destruíram ricas culturas e reinos milenares, como se percebe em Madagáscar. Grande composição daquela que talvez tenha sido a melhor fase do olodum.



Sunday bloody  sunday - U2





Essa música foi lançada em 1983 pela banda Irlandesa U2, e narra os eventos ocorridos no país deles, a Irlanda, em 1972.  
A Irlanda, um país católico, era dominado pela Inglaterra, um país protestante, e esse fato gerava constantes manifestações por direitos civis, bem como conflitos, entre eles. No domingo, 30 de Janeiro de 1972, na cidade de Derry, na Irlanda, houve uma manifestação que foi reprimida com violência pelo exército britânico. Os militares atiraram contra os manifestantes nessa passeata, atingido 26 civis, o que resoltou na morte de 14 deles. Outros foram atropelados por veículos militares. Todos os manifestantes estavam desarmados, e alguns eram menores de idade. Esse evento ficou conhecido como "domingo sangrento".
Criados sobre a sombra desse conflito, o U2 tornou-se um grupo com fortes composições políticas. Nessa música, a banda descreve os horrores daquele dia, do ponto de vista de um observador, que assiste o massacre de inocentes, jovens muitos deles, em uma guerra Civil sem sentido.





Revolta olodum



Essa música narra algumas das revoltas que ocorreram  no Nordeste, desde o Brasil Colônia até a o período da Nova República.  A música começa por mencionar as populações que participaram de muitas dessas manifestações, e que compõem a população do nordeste, até os nossos dias. 
"Retirante, ruralista, lavrador", além dos "mandingas" (negros muçulmanos que foram trazidos ao Brasil durante a escravidão), são alguns dos grupos envolvidos nas revoltas nordestinas ao longo da história.
Ela menciona desde as revoltas dos Malês, a guerra de canudos, o quilombo dos palmares,  a revolução balaiada, a revolta dos búzios (conjuração baiana) e o cangaço. Essa música é um passeio 
 pelo "arerê" que sempre foi a região nordeste.  Arerê, em bom baianês, significa confusão. 

Essas são algumas músicas que contam fatos históricos.  Breve, a parte três.

sábado, 9 de maio de 2020

Folk - a moderna música folclórica mundial


Certos estilos musicais são fáceis de se identificar, por possuírem elementos específicos que os definem. Forró, Samba, Rock, são exemplos disso. Já outros estilos trazem uma complexidade maior para se fazer essa identificação, justamente pela falta de tais elementos específicos.  São estilo musicais de variadas possibilidades e execuções. Um bom exemplo disso é a MPB. Outro, é o estilo musical sobre o qual falaremos hoje: O estilo FOLK. Vamos ouvi-lo?





                                     


Muito do que hoje chamamos de FOLK é,  na verdade, mas bem definido por expressões tais como folk contemporâneo, ou world music, e se refere a uma variedade de expressões musicais, não exatamente iguais, mas que compartilham muitas semelhanças.  E é essa variedade torna difícil defini-lo de maneira simples. Vamos apelidar o FOLK  de "MPB dos gringos" (licença poética). Pois, é como a MPB: fácil de reconhecer, difícil de definir.

ORIGEM

A expressão folk, vem do inglês folk-lore (conhecimento do povo), e refere-se a tudo que foi transmitido de maneira oral, de geração para geração, incluíndo as músicas. Assim, a música folk se inicia como sendo a música com raízes na CULTURA de determinados países, como os Estados unidos. Tanto entre os escravos, quanto outras partes da população, a cultura musical se difundia com essa transmissão de conhecimento ancestral. Era comum se cantar nas senzalas, por exemplo. Antes, e no início  século XX, portanto, antes de as gravadoras se popularizarem, essas músicas tradicionais eram tocadas  no banjo e no violão.



Esse é o banjo.

A medida que o tempo passava, esse jeito de cantar, os costumes locais permanecia na sabedoria popular. Quando as gravadoras surgiram, muito do que era gravado poderia ser classificado como folk. Pois embora tivesse uma semelhança com o country, tinha suas particularidades, portanto não poderia ser classificado como country

Abaixo, Peter Seeger, que fez sucesso na sua época, cantando e tocando banjo




Paul Campbell  - Grande compositor. OU UMA FRAUDE?

Como dito, a música Folk veio das manifestações folclóricas, especialmente nos Estados Unidos, e Inglaterra.  Porém, logo no início, surgiu um problema: se um cantor lança uma música, do cancioneiro popular, sem um autor conhecido, outros cantores, ou outras gravadoras, poderiam regravar sem pagar direitos autorais. A solução?  Paul Campbell. Quem era ele?

Não era uma pessoa, mas um personagem fictício,  inventado por gravadoras para registrar músicas folk "sem dono". Esse registro impediria que a música fosse regravada sem que a gravadora original recebesse os créditos. E isso gerou uma grande confusão. A música Wimmoueh, ou the Lion sleep tonight  (quem assistiu o rei Leão, conhece ela), foi atribuída a Paul Campbell , pois a gravadora achava que se tratava de uma música folclórica. Porém, essa música foi composta e gravada décadas antes, na África. Isso gerou um dos maiores processos por direitos autorais da histiria da música Folk, envolvendo, entre outros, a Disney. 


Folk contemporâneo 

A partir da década de 60, surgiram variações (e gravações) do que seria o folk semelhante ao de hoje.  Chamado de Folk Revival, ou Folk contemporâneo, essa evolução é  a base da música Folk que conhecemos hoje. Artistas como Bob Dylan,  Joan Braz, e tantos outros deram fôlego ( e popularidade) a esse estilo.







O Folk ajudou a popularizar o violão de 12 cordas. Também ajudou o violão a permanecer como importante instrumento nas gravações, visto que em outros estilos, ele foi substituído quase que totalmente pela guitarra elétrica.

Hoje, muitas músicas que não se enquadram em uma definição popular de um estilo conhecido (por exemplo, não são nem rock, nem pop, pop rock, clássica, etc), e  que tem mais semelhanças com as músicas tradicionais, e regionais,  que usam como base violões na sua composição ou execução, são classificadas como Folk, ou como algum dos seus subgêneros.



sábado, 18 de abril de 2020

Queen - A história

Nessa postagem, vou contar, de forma bem resumida, a história de uma das bandas mais influentes do Rock mundial, cuja importância é reconhecida por artistas de diversos gêneros musicais. Queen!
Mas essa pequena biografia será diferente. Vou contá-la para vocês em forma de vídeo. Ponham os fones de ouvido, e vamos a história.





Agora que você já viu a biografia, confira alguns sucessos das diversas fases da carreira do Queen


Bohemian Rapsody, um Marco.






Som na caixa







quarta-feira, 15 de abril de 2020

"Essa é pra você": Músicas que prestam homenagem

Músicas compostas como forma de homenagear alguém são muito comuns. Aliás, esse é um dos temas preferidos dos compositores. Sejam homenagens póstumas,  para seu ídolo, ou para um grande amor, enfim: prestar homenagens muitas vezes é o gatilho criativo para composições, incluíndo muitas que se tornaram sucesso. 
Nesse post vamos falar de algumas dessas músicas que foram escritas como homenagens, postumas ou não, a alguém. Se você não conhecia a história delas antes, provavelmente irá ouví-las de outro modo. Então, vamos as histórias

                    Elton John - Empty garden



             
 Veja a tradução aqui.




Nessa música, o personagem (que é o próprio Elton), chega a um jargim vazio, em frente a uma casa, em Nova Iorque. Antes, havia um jardineiro que cuidava bem do seu jardim. Ele bate na porta o dia todo, mas ninguém atende. Ele chama: "hey, Johnny, Can't you come out to play?" (Ei, Johnny, você não pode sair pra tocar?).

No dia 8 de dezembro de 1980, morreu John Lennon, assassinado na porta do prédio onde morava, em Nova Iorque, por alguém que se dizia seu fã.


Elton John e John Lennon eram amigos, e a morte de Lennon causou profundo impacto em Elton John. E dessa tragédia, nasceu "empty garden".

Além de falar de "um jardim descuidado", pois seu jardineiro não existe mais, a música também faz referência ao Madson square garden (garden, significa jardim), onde os dois se apresentaram juntos. Esse "jardim" ficará vazio (empty), pois Lennon se foi.


  Roberto Carlos - Debaixo dos caracóis dos seus cabelos.






"As luzes e o colorido

que você vê agora


nas ruas por onde andas


na casa onde mora


você olha tudo, e nada


te faz ficar contente


você só deseja, agora


voltar pra sua gente
Debaixo dos caracóis dos seus cabelos

uma história pra contar

de um mundo tão distante"


Essa composição foi feita por Roberto Carlos, e foi inspirada por uma visita que ele fez a Caetano Veloso, que estava exilado em Londres, por causa da ditadura militar que governava o brasil, e que mandou muitos artistas, e outras pessoas influêntes, para o exílio. Na ocasião da visita, Caetano se emocionou e chorou muito ao cantar junto com Roberto. Caetano sentia muita saudade de casa, e não se adaptava ao clima frio de Londres. Faltava o calor do sol e o calor humano. Comovido pela tristeza do baiano, Roberto compôs a música "debaixo dos caracóis dos seus cabelos (é, na época, Caetano usava um cabelo cacheado bem destacado).



                                     
Pearl Jam - Jeremy


                Veja a tradução aqui.


Na esteira do Nirvana, a banda de rock que alavancou o estilo Grunge, veio outra banda que também fez muito sucesso na época. O Pearl Jam. E a música que trouxe projeção mundial para a banda trás uma homenagem polêmica.


A música se chama "Jeremy", e a história contada nela é muito triste. Jeremy Wade Delle, tinha 15 anos, e morava com o seu pai. No dia 8 de jameiro de 1991, ele chegou atrasado na escola, e a professora de inglês o mandou a sala da diretoria, pegar uma autorização para que pudesse assistir a aula. Ao retornar, Jeremy teria dito: "senhora, aqui está o que fui buscar". Então ele tirou uma arma da mochila e se suicidou, diante da turma.


Na investigação, não ficou claro (ou ao menos não foi revelado) o que levou Jeremy ao suicídio. Seus colegas de escola o descreveram como alguém calado, mas que não tinha problemas com eles.

Porém, ao saber da notícia, que ocupou apenas uma tirinha de jornal, Eddie Vedder, vocalista da banda Pearl Jam, lembrou de uma história do seu próprio passado. 

Quando jovem, ele e outroa meninos implicavam com um colega de escola chamado Brian. Eddie admite que mal conhecia o garoto, mesmo assim, pegava no pé dele, junto com os seus colegas. Eddie chegou a se envolver em uma briga com Brian. 
Um dia, Brian chegou na escola, puxou uma arma e deu um tiro em um aquario durante a aula de oceanografia. Felizmente ninguém se feriu.

A morte trágica de Jeremy fez Eddie pensar nas consequências de suas ações no passado, e o efeito do bullying sobre Brian, e sobre Jeremy. Eddie acredita que o bullying foi um dos fatores que causou o desespero de Jeremy, assim como a negligência de seus pais. Se estivesse tudo bem com Jeremy na escola, como seus colegas afirmaram, ele não cometeria suicídio na frente da turma. O clipe da música tem uma cena polêmica, e é justamente a cena do suicídio. A emissora de tv MTV censurou esse final, e mostra apenas a cena seguinte: os colegas de Jeremy sujos de sangue. Assistindo a essa versão editada, pode se ter a impressão que Jeremy atirou nos colegas, o que não foi o caso.

                                          Hey Jude             



     
                       
                       Veja a tradução aqui

Paul McCartney,  baixista e vocalista dos Beatles, estava a Caminho de visitar Cyntia Lennon, de quem John Lennon estava se divorciando, e o filho do casal, Julian, que estava, obviamente, triste pelo que estava acontecendo. O ano era 1968. 
No caminho, ele desligou o carro, e começou a cantarolar os primeiros versos dessa canção. Paul disse:

 "Eu dirigi por cerca de uma hora. Eu costumava desligar o rádio nessas viagens e cantarolar, vendo se conseguia compor canções. Então comecei a cantar - 'Hey Jules - don't make it bad, take a sad song, and make it better...' – como uma mensagem de esperança para Julian. Tipo, ‘qual é cara, seus pais estão se divorciando, sei que você não esta feliz, mas você ficará bem.’ "

A música, anteriormente, se chamava "Hey Jules". Depois o nome foi mudado para "Hey Jude". Paul só contou oficialmente para Julian sobre a inspiração da canção em 1987. Essa é a história de um verdadeiro clássico da música mundial. E também uma evidência clara de que o fim dos Beatles estava próximo.

Uma curiosidade sobre essa canção: A versão original dessa música tem cerca de 7 minutos. Porém, as rádios da época não costumavam tocar nada que tivesse mais de 3 minutos. Assim a música foi editada, para se tornar "comercial".


        Elton John - Candle in the wind


                  
          Esse vídeo tem tradução

Mais uma de Elton John, que, em matédia de fazer homenagens, é um especialista. Essa música ele fez em homenagem a Marilyn Monroe. Mas nessa música, ele se refere a ela pelo nome verdadeiro, Norma Jean. 

Nessa música de adeus, gravada 11 anos após a morte de Marilyn, ele tenta humanizar a estrela do cinema, falando de coisas que a mídia não dava atenção. Ela teve que pagar com a solidão pelo estrelato. Era uma imagem vendida e fabricada a alto custo para ela. Transformada em  símbolo sexual, e ao mesmo tempo, em um objeto. 

Elton também critica a mídia, que sempre explorou sem dó Norma Jean, inclusive, ele critica o fato de que, na ocasião da sua morte, a imprensa deu muita ênfase ao fato de ela ter sido encontrada nua. 

Em 1997, Elton John relançou essa música, mudando a letra, para homenagiar a princesa Diana, que falecera naquele ano. Essa última versão tornou a música candle in the wind em um sucesso muito maior do que a primeira versão.


                  

               Versão de 1997, com tradução

Essas são algumas das homenagens musicais.  Esse universo é imenso, e eu trouxe algumas dessas estrelas para o blog. 


sexta-feira, 10 de abril de 2020

Música sertaneja - A história


Música sertaneja é um gênero musical do Brasil que, embora tenha sofrido várias influências de outros estilos musicais e de diversas culturas estrangeiras, é genuinamente brasileiro. A origem desse estilo se relaciona intimamente com a ocupação territorial do Brasil, feita pelos bandeirantes, e com o surgimento da figura do "caipira". Muitas músicas do cancioneiro popular foram a síntese do que hoje conhecemos como música sertaneja. Considera-se normalmente que o surgimento desse estilo musical se deu na década de 1910.

Raiz

Nesse início, era predominante o som da viola, ou viola caipira; um instrumento parecido com o violão, mas que possui 10 cordas.
Em 1929  (alguns dizem que foi em 1928), o jornalista Cornélio Pires conseguiu que a então chamada música caipira fosse posta em um formato para ser gravado, e assim  foi. Muitos consideram que a música Sertaneja comercial surgiu a partir daí.

 Até o final da década de 1960, a música sertaneja que tocava nas estações de rádio, era o que hoje conhecemos como Raiz. A música a seguir, de Tião Carreiro e Pardinho é um exemplo. Ela é tocada inteiramente na viola.



Sertanejo romântico

A fase mais conhecida do sertanejo, e a que realmente tornou o sertanejo a música mais ouvida no país. Nesse período, a viola perde espaço para o violão e os temais rurais perdem força, dando espaço as dores de amor (ou sofrências).  As duplas mais bem conhecidas estão nessa fase, por exemplo: Zezé e Luciano, Chitãozinho e Xororó, Leandro e Leonardo.

Percebe-se aí a influência de estilos como a Jovem guarda (intrudução da guitarra) e de elementos da música latina e do Country americano nos arranjos. Exemplos :


                                             Influência da música latina





A influência do country
                                        

Nessa fase, a música sertaneja deixa ser algo tocado quase que exclusivamente nas rádios AM, passando a tocar na maioria das FM. Também deixou de ser apenas a música do interior, especialmente de São Paulo, Minas Gerais e Goiás, para ganhar as capitais, e por fim, todo o país.


Sertanejo universitário, ou novo sertanejo.

Dispensa apresentações. Surgiu nos anos 2000, e segue a linha da música sertaneja romântica, mas com muitas alterações. Alguns consideram que a dupla João Bosco e Vinícius foram os pioneiros do estilo. Os temas românticos dividem espaços com músicas que falam de festa, mulheres, traição e coisas do gênero. Um instrumento que volta a ser  usado na música sertaneja nessa fase é a sanfona.

Acredito que, dessa fase, não  preciso por links como exemplos. É o que se toca até hoje predominantemente nas rádios e TVs.

Hoje, a música sertaneja é considerada o estilo musical mais popular do Brasil, inclusive, mais do que o samba. É o estilo mais comercializado, e com mais eventos realizados ao redor do país.

Aí está, de forma resumida, a história da música sertaneja.

terça-feira, 7 de abril de 2020

Alicia Keys - Um olhar sobre a sua carreira

Um olhar sobre a sua carreira

Essa série de post são biografias de artistas que eu gosto, por isso serão escritas em primeira pessoa. Vou falar, lógico, da história de tais artistas, mas, vou além disso: vou "chamá-los para uma conversa", onde eles terão a oportunidade de "conhecer" as opinioes e indagações (nem sempre objetivas) de um apreciador de suas carreiras. Nele, escrevo as impressões que tive desde a época que conheci tais artistas. Então não se espante se, em dado momento, tais impressões parecam um tanto a opinião de um jovem que colhia as utopias em meio ao que acontecia ao seu redor.

Alicia Keys: um processo de reconciliação

O ano era 2001. A música americana, que há tempos dita as regras do entretenimento, se resumia a grandes sucessos do pop, de forte apelo midiático, mas pouco conteúdo musical. Alguns lampejos de coisa boa surgiam nessa época na terra do tio Sam.  Fazendo um contraponto com isso, temos a musica britânica, enchendo de beleza e qualidade as playlists ao redor do mundo. Coldplay, é um bom exemplo disso. E aí você surgiu.

 O estilo? R&B. O instrumento? Piano. A batida? Forte reforço nos graves, como  em um sucesso de rap. E a voz doce, ao mesmo tempo imponente e ousada de jovem. Foi assim que te conheci. E o mundo da música, surpreso, também.

Mas vocé não estreou cantando. Nascida em New york, em 1981, logo cedo, você estreou na tv. Com 7 anos, se interessou pelo piano, que viria ser seu companheiro fiel. E como você toca bem! E os anos passaram. Muito aprendizado, até o momento da estreia. Vamos olhar a sua carreira, e eu vou te explicar por que houve um rompimento entre nós, e o que fiz para reatar a relação.

Song in a Mirror

Bem, um cd de R&B que fizesse sucesso mundial, não surgia há tempos. Mas você veio. Um disco que tem uma introdução que é um sample com um clássico de Beethoven. A música se chama Piano and I.


 E então, o ápice. A musica que nos apresentou. Uma voz jovem, ansiosa e linda. Um piano marcante. E a forte batida R&B: Fallin'.



O disco tinha poucas (acho que uma) composições um tanto pops midiáticas, mas não se destacaram. Não perante tudo mais que tinha a oferecer. Um sucesso de crítica e de público logo na estreia.
12 milhões de cópias e 5 prêmios grammys, ja diziam: você veio pra ficar. E eu disse: "Seja bem vinda!"

The Diary of Alicia Keys

Esse disco de 2003, trouxe a essência da Alicia que conheci em 2001, mas com uma diferença: Nesse disco, você mostrou mais o seu lado pianista. Faixas como "You don't know my name", com um solo de piano em escala descendente no refrão, deixaram claro: Você domina as teclas.


Nesse disco saiu aquela que eu considero sua obra prima, e que na sua terra, é a mais amada das suas canções: "If ain't got you".
Mais uma vez, sucesso de público e de critica. Mais quatro grammys pra casa.



 Mas teve algo que me preocupou: Sua aparencia estava mudando. Se afastando daquela "garota do rip rop", em direção a "sexy capa de revista". Nota-se isso nos demais clipes desse álbum.


Unplugged

Em 2005, saiu o seu cd unplugged MTV. Um sucesso de vendas dessa série de acústicos, ficando atrás apenas do imbatível acústico do Nirvana. Na canção Unbreakable, vemos você, sendo você: Piano, voz, e batidas. Esse disco não ganhou nenhum grammy.



As I Am - julguei o disco pela "capa"

Infelizmente, não havia internet banda larga quando você surgiu. Havia sim, uma total dependência minha de acompanhar você pela mídia. E isso, infelizmente, me fez rever os conceitos elevados que tinha sobre você. Esse disco saiu em 2007, e seu maior hit é "no one".



Mas a imagem que veio associado a essa música, de uma cantora sexy, irresistível, era a imagem de quem? Porque você nunca precisou disso. Ganhou mais um grammy com essa música, e graças a "no one", muitos, especialmente fora dos EUA, te conheceram. Esse foi o maior hit do album. E eu, um tanto decepcionado, esperava mais, embora a considere uma boa música. Infelizmente, eu não possuia o real, nem o dólar na carteira, para comprar (no caso, encomendar) o disco. A impressão ruim só foi tirada anos depois, quando ouvi esse disco todo (graças a grande rede), e percebi: Voce estava nele. E é um excelente disco!

Element of freedom - A relação estremeceu de vez.

Em 2009 saiu o Element of freedom. Esse eu estava decidido. Não iria julgar sem ouvir. Catei as moedas, quebrei o porquinho, fui a uma loja de CDs e, visto que eles não o tinham, encomendei. Queria ouvir o album e não julgar pelo hit lançado na mídia por produtores que só pensam em vendas.
No disco, seu potencial vocal foi posto em evidência. Você consegue expressar raiva, em uma canção (love is blind), e ser bem sensual em outra (try sleep with a broken heart), somente com a sua voz.





Contudo, embora ainda seja um disco de R&B, e é sim, um bom disco, percebi nele a influência forte do pop, e um grande desejo de emplacar mais um hit. Parecia que certas músicas foram postas ali apenas para se tornarem hits.Você provou da sensação de ser um sucesso de público, e gostou do sabor. Eu vi uma artista em conflito nesse disco. E em todos os clipes que saíram, a cantora e musicista sumiram. Apenas a mulher sexy e linda (e você era isso tudo mesmo) recebia destaque.

Put It in a Love song, com Beyoncé

This bed

 Bem: aí acho que a relação estremeceu. Como disse, não o considero um disco ruim, mas a primeira impressão (que confesso, estava influenciada pelo que você divulgiu do disco anterior) ainda era essa: você, buscando mais um hit, e querendo se assemelhar com a vulgaridade que a mídia ama. Esse nunca foi o seu forte. Você sempre esteve em outro patamar,  acima da comum associação feita pela mídia, entre a música e o corpo, a sensualidade. O disco não emplacou nenhum hit. Eu pensei que isso te ajudaria a ver que o mais importante não é isso. Que o melhor que você tem a oferecer é a sua música. Simplesmente única! Mas eis que veio Jay Z e atrapalhou seu aprendizado. O dueto "Empire states of mind", varreu o mundo, e você foi ao topo das paradas. É uma boa música. Mas o problema é o que ela representa: o perseguido sucesso.  Fiquei desesperançoso quanto ao futuro.




Girls on fire

Em 2012 saiu o disco Girls on fire. Bem, esse eu não estava nem um pouco a fim de encomendar. Preferi ver o que viria a ser divulgado E nessa época, eu ja tinha banda larga. Era só esperar. Então veio. Mas veio outra daquelas músicas feitas para ser hit. A música tem o mesmo nome do disco. Não me surpeendeu.



 Mas algo sim, me surpreendeu: A imagem. Você não estava mais a mulher sexy irresistível dos ultimos álbuns (claro, em "girls on fire, ainda é o que se explora). Você estava mais magra, até.
Então você lançou o clipe que me ajudou a entender muita coisa, e até voltar para ouvir discos renegados. A música e o clipe de "brand new me". Parece que voce quer se libertar daquela imagem fabricada.




Então pensei: será que você errou mesmo  nas escolhas, ou o que se divulgou antes é que estava errado? Fui ouvir o "as I am"  (o disco de "no one"), e vi que era você. Você estava lá. Então fui ouvir o álbum girls on fire. E tirando essa música, o álbum é seu. É você, a Alicia de sempre, com mais ousadia para experimentar. Não posso dizer que é um excelente álbum, mas superou minhas expectativas (que não estavam muito altas). E eu notei algo mais: eram seus produtores, ou gerenciadores de carreira, que estavam me fazendo ver incoerencias na sua na suas escolhas , vendo mais incoerências do que, de fato haviam. Algum tempo depois dessa descoberta, comecei a acompanhar mais de perto as suas entrevistas (que tinha que penar para traduzir do inglês). Foi esclarecedor.

Here - Você dizendo quem é

Antes de você lançar esse disco, você fez mudanças radicais. Me surpreendeu. Pra começar, parou de cobrir totalmente seu rosto de argamassa. Eu não sabia que você tinha sardas! Seus cachos, em vez de serem contidos, podados, e chapeados, foram assumidos, e postos pra cima, em destaque. Suas entrevistas falam do quanto você sofreu com essas exigências, esse "se encaixe nos padrões". Uma escravidão disfarçada de sucesso. Uma pressão absurda te fazendo crer que só a sua música não bastava para fazer sucesso.  Você precisava ser a mulher sexy e perfeita que a indústria fonográfica fabricou. Você precisava ser falsa com a sua imagem, se afastando daquela "moleca", daquele seu jeito de "rapper", de NY. A mídia só não sabia (ou não ligava), e nem eu sabia, que esse seu jeito despojado e espontâneo foi a sua maneira de superar a ausência do pai, na infância. Eles te tiraram isso. Te escravizaram. Mas a sua libertação veio. Você quebrou os grilhões, pra nunca mais usá-los.
Esse álbum está refletindo isso. Você chegou no seu lugar:  aqui (here).


O álbum talvez seja amado, odiado, mas nunca subestimado. Você está livre nele. Parece não estar pensando em hit (tanto que ele não tem nenhum), mas experimenta muita coisa nova, sonoridades que nunca te vi fazer. Eu pessoalmente, vou ouvi-lo com mais calma. Dar tempo pra perceber você nele.


Em NY, o show do disco Here. Você, e sua nova imagem livre.
Muita gente acha que você está incentivando as mulheres a não se maquiarem, ou que você odeia esses itens, mas não é o caso. Claro, graças a você, um movimento ganhou força nos EUA, denominado NO MAKE UP (sem maquiagem). Mas, como você disse em uma entrevista recente, você ama seu gloss, batons e make. Mas ama muito mais saber que pode DECIDIR quando usá-los, e como, e não ser OBRIGADA A USÁ-LOS, do jeito que a midia acha "correto", encobrindo "imperfeições" que na verdade, te definem.
Confesso: gostei de te "conhecer" de novo.

Ao olhar pra sua carreira, o que eu vejo, Alicia?

 Vejo uma artista que, tão jovem, trouxe algo novo, surpreendente, ao cansado mercado fonográfico americano e mundial. Vejo que, ao longo do tempo, como acontece com muitas relações, maus entendidos atrapalham a continuidade da minha relação de admirador de sua carreira, por um tempo. Algo já sanado. E vejo mais: Você é, e continuará sendo, a maior representante do R&B da atualidade, e uma das maiores cantoras da sua geração. Quanto a mim? Hoje, ouço e amo TODOS OS SEUS DISCOS, tenho uma playlist com mais de 90 músicas suas, e digo em alto e bom som: estamos em paz!


terça-feira, 31 de março de 2020

Motown. Um motor negro na música.

Ao analisar a música, e os variados estilos, uma coisa se nota: Não tem como entender a música de determinada sociedade sem mergulhar na cultura e elementos que fazem parte desta sociedade. E assim como a sociedade influencia a música, a música também a influencia. E é assim no caso da Motown

Então vou tentar descrever do modo mais resumido possível a história desse selo que se tornou uma verdadeira  linha de montagem de sucessos. A MOTOWN

O nome Motown (contração de “Motor Town”, cidade dos motores) é uma homenagem à cidade-natal da gravadora, Detroit, que era um polo industrial de automóveis. Foi fundada por Barry Gordy, em 1959. Qual a sua importância pra musica? Vejamos:

Como disse,  não dá pra separar a história da música e a do país em que ela é feita. Durante muitas décadas, os EUA eram um país segregado (negros e brancos legalmente separados). Essa é sempre uma questão significativa, ao se falar da cultura e, evidentemente, da música, americana. Assim, embora houvessem muitos  negros e brancos talentosos, os negros não tinham quase nenhum  espaço na mídia. Dizia-se que os negros tinham talento, mas não sabiam vendê-lo. Isso mudou com o surgimento da Motown.

Trabalhando como se fosse uma linha de montagem, a Motown era bem mais que uma gravadora. Eles lançavam quase que exclusivamente artistas negros. Mas faziam mais do que gravar. A MOTOWN dava para os seus artistas aulas de canto, dança, dicção, e os vestia e penteava sempre impecavelmente. Além disso, a MOTOWN tinha uma excelente banda de estúdio, de modo que suas gravações eram de muita qualidade. A Motown também se preocupava em como os artistas apareceriam na TV.
Assim eles eram perfeitamente arrumados e coreografados para aparecer na televisão. Eis alguns exemplos:




Temptations - My girl



Jackson 5 - I want tou back

A  "Linha de montagem" da  Motown era muito eficiente, lançando um artista atrás do outro nas paradas de sucesso. Em apenas nove anos, a Motown emplacou incríveis 240 sucessos nos top 40 das paradas americanas. Assim, a Motown se tornou uma das maiores gravadoras dos Estados unidos, e finalmente os artistas negros venceram a barreira da segregação

Vocês já ouviram vários sucessos da Motown. Então, Mais alguns pra curtirem!









New Wave. O rock mais alegre


É comum os estilos musicais terem influência, não só no seus fones de ouvido, ou na hora da faxina em casa. Normalmente, os estilos musicais também influenciam a moda, o cinema, e até a cultura de uma época. Vamos falar sobre um estilo que fez muito sucesso, em especial nos anos 80: o New Wave.

Antes de descrever, vamos ouvir um pouco:






O New Wave surgiu nos anos 70. Nessa época, a Disco dominava as rádios, e o punk era a variação do rock que mostrava a rebeldia de uma geração. O New Wave surgiu paralelo ao Punk. Tratava se de um estilo de rock, aparentado com o punk, porém, em vez de roupas pretas de couro e letras de anarquia, o New Wave se caracterizava por um som mais "alegre", que reunia elementos da Disco Music com o rock.

as vestimentas que acompanhavam os músicos eram mais leves e coloridas. Até mesmo a moda dos cabelos passou a ser influenciada pelo New Wave. A
moda dos mullets
Pra quem não sabe o que é Mullet: é um corte de cabelo curto na frente em cima e no lados, longo atrás. Foi muito popular no início dos anos 1980 até o início da década de 1990, 

O instrumento musical que é a marca registrada do estilo New Wave é o SINTETIZADOR


Esse é o SINTETIZADOR. Um tipo de teclado que cria sonoridades e timbres.

Esse é o Synth sholder, ou SINTETIZADOR de ombro. Comum no New Wave dos anos 80.

Alguns riffs famosos de sintetizadores.

O New Wave caiu no gosto popular, e da mídia, virando moda nos anos 80. O sucesso foi tanto que quase tudo que aparecia nos anos 80 era associado ao estilo. Grupos como A-ha, Duran Duran, Culture club, Depeche Mode, e muitos outros estouraram nessa época.

Os anos 80 passaram, e o estilo New Wave perdeu força na indústria musical. Mas até hoje, quem viveu (e quem não), ao ouvir um dos sucessos da época, se transporta para os coloridos anos 80. Eles talvez não saibam, mas gostam muito desse estilo musical. O NEW WAVE

Nina Simone - apagaram uma estrela




Seja em filmes, séries americanas, ou até mesmo comerciais de tv, provavelmente em algum momento você já ouviu essa música.
Essa voz encorpada, diferente, pertence a Nina Simone. Vamos conhecê-la e descobrir
porque a maioria do público não a conhece.

Eunice Kathleen Waymon, é o nome dessa cantora e pianista que foi tão marcante quanto polêmica, e que foi um ícone da música negra americana, especialmente o Jazz e o blues: Nina Simone

Nascida em 1933 na Carolina do Norte, EUA, ainda criança, mostrou aptidão com o piano, que teve contato na igreja que sua família frequentava.

O talento que ela demonstrou, desde cedo, fez que ela recebesse ajuda de graça de uma professora de música, e assim ela passou a ter um sonho: ser a primeira pianista clássica negra dos estados unidos, um país que era segregado (havia separação entre negros e brancos)

Aos 20 anos passou a se apresentar nos bares tocando piano. Em um deles o dono afirmou que ela teria que cantar, não só tocar piano. Nessa época, ela assumiu o nome de Nina Simone, para que os pais não soubessem que ela estava se apresentando em bares.

Nina foi rejeitada no conservatório de música da Filadélfia, mesmo tendo estudado em Julliard, uma famosa escola de música em Nova York. Então Nina  continuou a carreira no jazz e blues. O sucesso seria  evitável. E foi estrondoso e rápido. Nina era diferente. Nina era talentosa. E logo atingiu o sucesso nacional. Gravações como "Feeling good" conquistaram o país inteiro.

Mas o que aconteceu? Porque a maioria das pessoas nunca ouviu falar em Nina Simone? Por que o sucesso dela não foi tão duradouro quanto o de outras cantoras negras, tal como Dianna Ross, ou Aretha Franklin? Três fatores em especial:

1 • Seu Casamento: Nina se casou com Andrew Strouds, que se tornou o seu empresário. O relacionamento era marcado por brigas e espancamentos por parte de Andrew, e segundo Nina, ele a pressionava a ser um sucesso na mídia e nos shows. Tudo isso contribuiu para o segundo fator que ajuda a entender melhor a carreira de Nina.

2 • Suas emoções. Nina era tão talentosa quanto explosiva. Explodia fácil e de modo imprevisível, com músicos, produção e até com a plateia. Em certos concertos ela exigia o mesmo silêncio de um público de música clássica. Nina explodia com todos ao redor. Até mesmo sua  filha era um grande alvo das suas explosões. Uma nota importante: só anos depois é que se descobriu que Nina tinha problemas emocionais, como transtorno Bipolar,o  que tornava sua convivência com outros bem difícil. Mas na década de 60, parecia apenas que ela era uma pessoa difícil de lidar.


Nina  interrompe a música para mandar uma garota se sentar


3 • Seu engajamento: os direitos civis foram a bandeira da vida de Nina. Na época dela os negros eram separados dosa brancos. Alguns eram assassinados devido a cor da pele. Nessa mesma época surgiu a luta dos negros pelos seus direitos; esse período é conhecido como  "os direitos civis". Uns defendiam uma luta pacífica, como Martin Luther King. Outros defendiam a violência como forma de lutar pela igualdade, como os Panteras Negras. Depois que quatro crianças negras foram mortas por uma explosão numa igreja, frequentada por negros, Nina se engajou de vez na luta. Mas ela defendia a luta a qualquer custo. Defendia nos seus shows que negros deviam estar prontos e dispostos a pegar em armas se possível. E mesmo matar brancos, se necessário, como uma forma de "fazer justiça", já que os brancos matavam os negros por nada, além da cor.





Não achei legendado, mas em resumo, ela menciona lugares onde aconteceram graves perdas para os negros, como Alabama (onde ficava a igreja, já mencionada), Tennessee, e o "Maldito Mississipi"


Nina passou a sofrer boicote das rádios e TVs, dominadas na maioria por pessoas brancas, também deixou de ser contratada para shows. Por fim, saiu dos EUA, morou na África, depois na França. Mas sua carreira já estava prejudicada.

 Nina Simone morreu em 2003, na França.