Abaixo do título das músicas, há links para que possa ouvir e conhecê-las. A sugestão é: caso não conheça a música, escute-a primeiro. Depois, leia a sua história, e se possível, escute novamente, prestando atenção nos detalhes presentes na canção que fazem referência aos fatos que você acabou de ler.
Etiópia - Edson Gomes
Um fato histórico pouco conhecido, mas que foi musicado como forma de protesto por Edson Gomes, cantor de reggae baiano.
Durante a década de 1930, as chamas da segunda guerra já estavam acesas, e o conflito era inevitável. A Alemanha nazista e Itália fascista eram aliadas. A liga das nações era o organismo resposável por manter a paz mundial, e mediar conflitos, mas falha no seu propósito. Um dos primeiros a manifestar no campo de batalha suas intenções agressivas foi Benito Mussolini, primeiro ministro da Itália. Em dois de outubro de 1935, ele marcha com seu exército poderoso contra a Etiópia, na África, com o objetivo de anexá-a a outras províncias italianas na região. Apesar da resistência, até surpeendente, dos etíopes, não havia como essa pobre nação impedir o rolo compressor fascista. Contra guerreiros que usavam um pouco mais do que lanças e cavalos, o exército da Itália avançou com tanques, metralhadoras, bombardeios aereos e armas químicas. Assim, com grande perda de vidas, militares e civis, a etiópia cai, o fascismo mostra sua a força, e o mundo fica em estado de suspense. Esse ataque de Mussolini, e a fraca atuação da liga das nações para puní-lo, acaba por dar mais coragem a Adolf Hitler, nas ações que tomaria a seguir, invadindo países, sem resistência ou punição por parte da liga. Por isso, muitos historiadores consideram essa invasão como parte da história da segunda guerra mundial, que começou oficialmente quatro anos depois.
Edson Gomes, nessa canção, fala dessa luta desigual de lanças contra metralhadoras, mas também critica o fato de que quase nada disso é ensinado nas escolas.
Madagascar Olodom
O olodum, bem como outras bandas de samba reggae do início dos anos 80, trazia em muitas de suas músicas a história da África, do Oriente médio, e do Brasil Colônia, bem como críticas sociais.
A música "Madagascar olodum" é uma das músicas mais surpreenentes sobre fatos históricos, pois ao mesmo tempo que conta, em ordem não cronológica, a história das diversas civilizações que deram origem a população da ilha de Madagascar, na África, bem como dos reis que sobre ela dominaram, também faz uma critica um tanto velada a escravidão "justificada", e ao aparthied, regime que separava negros e brancos na África do sul. São tantos detalhes nessa letra, que vamos nos concentrar nos principais:
"Criaram-se varios reinados": Essa simples frase já diz muito. Diferente de ser uma terra de bárbaros, como às vezes se ensina nas aulas de história ocidentais, Madagáscar era uma terra de reinos, subdividida em grupos geopolíticos, como por exemplo, os Merinas, que dominaram a Ilha por 103 anos. Um rei dos Merinas, Rambosalona, acreditava ser filho dos deuses, e capaz de transmitir para sua descendência essa virtude. Assim, era o tal "vetor saudável".
"A rainha Ranavalona", começou seu reinado em 1810, e governou com mão de ferro sobre Madagáscar. Tida como tirana, quis defender os costumes mitológicos do seu país, e por isso perseguiu e tentou expulsar os missionários cristãos da Ilha. Executou muitos desses e outros inimigos. Mandou envenenar seu marido, e assim passou a ser "soberana da sociedade". Reinou por 33 anos.
"Rei Radama... levava seu Reino a bailar". Filho de Ranavalona, teve um reinado oposto a tirania de sua mãe. Permitia a liberdade de cultos, o comércio estrangeiro, instituiu um parlamento ( inedito, entre os psíses africanos), pôs fim ao escambo ao criar uma moeda nacional, e concedeu perdão a muitos que estavam presos injustamente pela perseguição do reinado anterior. Realmente levou o povo, 'seu Reino, a bailar'.
"Bantos, indonésios, árabes integram a cultura malgaxe". Os indonésios foram os primeiros a habitar a Ilha, dando origem a população malgaxe, como os habitantes de Madagáscar eram chamados, chegando nela cerca de 300 anos antes de cristo. Também vieram os bantos, da África continental, e os árabes. Essa mistura de gente se assemelha com a "raça varonil" que deu origem a população do Brasil.
Mas, apesar de toda essa história, por fim os vazimbas (Como eram chamados os primeiros habitantes da Ilha, e que, na música, representam todos os nativos de Madagáscar), "foram vencidos pela invenção". Os europeus há muito lidavam com o metal, e dele forjavam suas armas de matança. Essa "invenção" do metal fez com que, por fim, os europeus subjugassem os nativos de Madagáscar, cujas ferramentas eram basicamente de barro recosido.
"Yê, Sakalavas ona ê". Os Sakalavas, mencionados na música, são uma grande etnia que esteve em guerra com os Merinas durante muito tempo, e que dominaram sobre Madagáscar por certo período. "Sakalavas ona ê", significa, com possíveis variações, o jeito (a maneira, o modo de fazer) dos sakalavas.
Depois de contar em uma música com letra curta uma história secular, o compositor se volta aos problemas da sua época, e faz referência ao apartheid, contra o qual faz protestos, e evoca igualdade entre os povos.
Então, essa música parece querer mostrar que não é correta a versão europeia de que a áfrica era habitada por povos bárbaros, sem leis, que foram escravizados, e "civilizados". Os colonizadores destruíram ricas culturas e reinos milenares, como se percebe em Madagáscar. Grande composição daquela que talvez tenha sido a melhor fase do olodum.
Sunday bloody sunday - U2
Essa música foi lançada em 1983 pela banda Irlandesa U2, e narra os eventos ocorridos no país deles, a Irlanda, em 1972.
A Irlanda, um país católico, era dominado pela Inglaterra, um país protestante, e esse fato gerava constantes manifestações por direitos civis, bem como conflitos, entre eles. No domingo, 30 de Janeiro de 1972, na cidade de Derry, na Irlanda, houve uma manifestação que foi reprimida com violência pelo exército britânico. Os militares atiraram contra os manifestantes nessa passeata, atingido 26 civis, o que resoltou na morte de 14 deles. Outros foram atropelados por veículos militares. Todos os manifestantes estavam desarmados, e alguns eram menores de idade. Esse evento ficou conhecido como "domingo sangrento".
Criados sobre a sombra desse conflito, o U2 tornou-se um grupo com fortes composições políticas. Nessa música, a banda descreve os horrores daquele dia, do ponto de vista de um observador, que assiste o massacre de inocentes, jovens muitos deles, em uma guerra Civil sem sentido.
Essa música narra algumas das revoltas que ocorreram no Nordeste, desde o Brasil Colônia até a o período da Nova República. A música começa por mencionar as populações que participaram de muitas dessas manifestações, e que compõem a população do nordeste, até os nossos dias.
"Retirante, ruralista, lavrador", além dos "mandingas" (negros muçulmanos que foram trazidos ao Brasil durante a escravidão), são alguns dos grupos envolvidos nas revoltas nordestinas ao longo da história.
Ela menciona desde as revoltas dos Malês, a guerra de canudos, o quilombo dos palmares, a revolução balaiada, a revolta dos búzios (conjuração baiana) e o cangaço. Essa música é um passeio
pelo "arerê" que sempre foi a região nordeste. Arerê, em bom baianês, significa confusão.
Essas são algumas músicas que contam fatos históricos. Breve, a parte três.
Essa música de Edson Gomes... Gostei.
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