terça-feira, 7 de abril de 2020

Alicia Keys - Um olhar sobre a sua carreira

Um olhar sobre a sua carreira

Essa série de post são biografias de artistas que eu gosto, por isso serão escritas em primeira pessoa. Vou falar, lógico, da história de tais artistas, mas, vou além disso: vou "chamá-los para uma conversa", onde eles terão a oportunidade de "conhecer" as opinioes e indagações (nem sempre objetivas) de um apreciador de suas carreiras. Nele, escrevo as impressões que tive desde a época que conheci tais artistas. Então não se espante se, em dado momento, tais impressões parecam um tanto a opinião de um jovem que colhia as utopias em meio ao que acontecia ao seu redor.

Alicia Keys: um processo de reconciliação

O ano era 2001. A música americana, que há tempos dita as regras do entretenimento, se resumia a grandes sucessos do pop, de forte apelo midiático, mas pouco conteúdo musical. Alguns lampejos de coisa boa surgiam nessa época na terra do tio Sam.  Fazendo um contraponto com isso, temos a musica britânica, enchendo de beleza e qualidade as playlists ao redor do mundo. Coldplay, é um bom exemplo disso. E aí você surgiu.

 O estilo? R&B. O instrumento? Piano. A batida? Forte reforço nos graves, como  em um sucesso de rap. E a voz doce, ao mesmo tempo imponente e ousada de jovem. Foi assim que te conheci. E o mundo da música, surpreso, também.

Mas vocé não estreou cantando. Nascida em New york, em 1981, logo cedo, você estreou na tv. Com 7 anos, se interessou pelo piano, que viria ser seu companheiro fiel. E como você toca bem! E os anos passaram. Muito aprendizado, até o momento da estreia. Vamos olhar a sua carreira, e eu vou te explicar por que houve um rompimento entre nós, e o que fiz para reatar a relação.

Song in a Mirror

Bem, um cd de R&B que fizesse sucesso mundial, não surgia há tempos. Mas você veio. Um disco que tem uma introdução que é um sample com um clássico de Beethoven. A música se chama Piano and I.


 E então, o ápice. A musica que nos apresentou. Uma voz jovem, ansiosa e linda. Um piano marcante. E a forte batida R&B: Fallin'.



O disco tinha poucas (acho que uma) composições um tanto pops midiáticas, mas não se destacaram. Não perante tudo mais que tinha a oferecer. Um sucesso de crítica e de público logo na estreia.
12 milhões de cópias e 5 prêmios grammys, ja diziam: você veio pra ficar. E eu disse: "Seja bem vinda!"

The Diary of Alicia Keys

Esse disco de 2003, trouxe a essência da Alicia que conheci em 2001, mas com uma diferença: Nesse disco, você mostrou mais o seu lado pianista. Faixas como "You don't know my name", com um solo de piano em escala descendente no refrão, deixaram claro: Você domina as teclas.


Nesse disco saiu aquela que eu considero sua obra prima, e que na sua terra, é a mais amada das suas canções: "If ain't got you".
Mais uma vez, sucesso de público e de critica. Mais quatro grammys pra casa.



 Mas teve algo que me preocupou: Sua aparencia estava mudando. Se afastando daquela "garota do rip rop", em direção a "sexy capa de revista". Nota-se isso nos demais clipes desse álbum.


Unplugged

Em 2005, saiu o seu cd unplugged MTV. Um sucesso de vendas dessa série de acústicos, ficando atrás apenas do imbatível acústico do Nirvana. Na canção Unbreakable, vemos você, sendo você: Piano, voz, e batidas. Esse disco não ganhou nenhum grammy.



As I Am - julguei o disco pela "capa"

Infelizmente, não havia internet banda larga quando você surgiu. Havia sim, uma total dependência minha de acompanhar você pela mídia. E isso, infelizmente, me fez rever os conceitos elevados que tinha sobre você. Esse disco saiu em 2007, e seu maior hit é "no one".



Mas a imagem que veio associado a essa música, de uma cantora sexy, irresistível, era a imagem de quem? Porque você nunca precisou disso. Ganhou mais um grammy com essa música, e graças a "no one", muitos, especialmente fora dos EUA, te conheceram. Esse foi o maior hit do album. E eu, um tanto decepcionado, esperava mais, embora a considere uma boa música. Infelizmente, eu não possuia o real, nem o dólar na carteira, para comprar (no caso, encomendar) o disco. A impressão ruim só foi tirada anos depois, quando ouvi esse disco todo (graças a grande rede), e percebi: Voce estava nele. E é um excelente disco!

Element of freedom - A relação estremeceu de vez.

Em 2009 saiu o Element of freedom. Esse eu estava decidido. Não iria julgar sem ouvir. Catei as moedas, quebrei o porquinho, fui a uma loja de CDs e, visto que eles não o tinham, encomendei. Queria ouvir o album e não julgar pelo hit lançado na mídia por produtores que só pensam em vendas.
No disco, seu potencial vocal foi posto em evidência. Você consegue expressar raiva, em uma canção (love is blind), e ser bem sensual em outra (try sleep with a broken heart), somente com a sua voz.





Contudo, embora ainda seja um disco de R&B, e é sim, um bom disco, percebi nele a influência forte do pop, e um grande desejo de emplacar mais um hit. Parecia que certas músicas foram postas ali apenas para se tornarem hits.Você provou da sensação de ser um sucesso de público, e gostou do sabor. Eu vi uma artista em conflito nesse disco. E em todos os clipes que saíram, a cantora e musicista sumiram. Apenas a mulher sexy e linda (e você era isso tudo mesmo) recebia destaque.

Put It in a Love song, com Beyoncé

This bed

 Bem: aí acho que a relação estremeceu. Como disse, não o considero um disco ruim, mas a primeira impressão (que confesso, estava influenciada pelo que você divulgiu do disco anterior) ainda era essa: você, buscando mais um hit, e querendo se assemelhar com a vulgaridade que a mídia ama. Esse nunca foi o seu forte. Você sempre esteve em outro patamar,  acima da comum associação feita pela mídia, entre a música e o corpo, a sensualidade. O disco não emplacou nenhum hit. Eu pensei que isso te ajudaria a ver que o mais importante não é isso. Que o melhor que você tem a oferecer é a sua música. Simplesmente única! Mas eis que veio Jay Z e atrapalhou seu aprendizado. O dueto "Empire states of mind", varreu o mundo, e você foi ao topo das paradas. É uma boa música. Mas o problema é o que ela representa: o perseguido sucesso.  Fiquei desesperançoso quanto ao futuro.




Girls on fire

Em 2012 saiu o disco Girls on fire. Bem, esse eu não estava nem um pouco a fim de encomendar. Preferi ver o que viria a ser divulgado E nessa época, eu ja tinha banda larga. Era só esperar. Então veio. Mas veio outra daquelas músicas feitas para ser hit. A música tem o mesmo nome do disco. Não me surpeendeu.



 Mas algo sim, me surpreendeu: A imagem. Você não estava mais a mulher sexy irresistível dos ultimos álbuns (claro, em "girls on fire, ainda é o que se explora). Você estava mais magra, até.
Então você lançou o clipe que me ajudou a entender muita coisa, e até voltar para ouvir discos renegados. A música e o clipe de "brand new me". Parece que voce quer se libertar daquela imagem fabricada.




Então pensei: será que você errou mesmo  nas escolhas, ou o que se divulgou antes é que estava errado? Fui ouvir o "as I am"  (o disco de "no one"), e vi que era você. Você estava lá. Então fui ouvir o álbum girls on fire. E tirando essa música, o álbum é seu. É você, a Alicia de sempre, com mais ousadia para experimentar. Não posso dizer que é um excelente álbum, mas superou minhas expectativas (que não estavam muito altas). E eu notei algo mais: eram seus produtores, ou gerenciadores de carreira, que estavam me fazendo ver incoerencias na sua na suas escolhas , vendo mais incoerências do que, de fato haviam. Algum tempo depois dessa descoberta, comecei a acompanhar mais de perto as suas entrevistas (que tinha que penar para traduzir do inglês). Foi esclarecedor.

Here - Você dizendo quem é

Antes de você lançar esse disco, você fez mudanças radicais. Me surpreendeu. Pra começar, parou de cobrir totalmente seu rosto de argamassa. Eu não sabia que você tinha sardas! Seus cachos, em vez de serem contidos, podados, e chapeados, foram assumidos, e postos pra cima, em destaque. Suas entrevistas falam do quanto você sofreu com essas exigências, esse "se encaixe nos padrões". Uma escravidão disfarçada de sucesso. Uma pressão absurda te fazendo crer que só a sua música não bastava para fazer sucesso.  Você precisava ser a mulher sexy e perfeita que a indústria fonográfica fabricou. Você precisava ser falsa com a sua imagem, se afastando daquela "moleca", daquele seu jeito de "rapper", de NY. A mídia só não sabia (ou não ligava), e nem eu sabia, que esse seu jeito despojado e espontâneo foi a sua maneira de superar a ausência do pai, na infância. Eles te tiraram isso. Te escravizaram. Mas a sua libertação veio. Você quebrou os grilhões, pra nunca mais usá-los.
Esse álbum está refletindo isso. Você chegou no seu lugar:  aqui (here).


O álbum talvez seja amado, odiado, mas nunca subestimado. Você está livre nele. Parece não estar pensando em hit (tanto que ele não tem nenhum), mas experimenta muita coisa nova, sonoridades que nunca te vi fazer. Eu pessoalmente, vou ouvi-lo com mais calma. Dar tempo pra perceber você nele.


Em NY, o show do disco Here. Você, e sua nova imagem livre.
Muita gente acha que você está incentivando as mulheres a não se maquiarem, ou que você odeia esses itens, mas não é o caso. Claro, graças a você, um movimento ganhou força nos EUA, denominado NO MAKE UP (sem maquiagem). Mas, como você disse em uma entrevista recente, você ama seu gloss, batons e make. Mas ama muito mais saber que pode DECIDIR quando usá-los, e como, e não ser OBRIGADA A USÁ-LOS, do jeito que a midia acha "correto", encobrindo "imperfeições" que na verdade, te definem.
Confesso: gostei de te "conhecer" de novo.

Ao olhar pra sua carreira, o que eu vejo, Alicia?

 Vejo uma artista que, tão jovem, trouxe algo novo, surpreendente, ao cansado mercado fonográfico americano e mundial. Vejo que, ao longo do tempo, como acontece com muitas relações, maus entendidos atrapalham a continuidade da minha relação de admirador de sua carreira, por um tempo. Algo já sanado. E vejo mais: Você é, e continuará sendo, a maior representante do R&B da atualidade, e uma das maiores cantoras da sua geração. Quanto a mim? Hoje, ouço e amo TODOS OS SEUS DISCOS, tenho uma playlist com mais de 90 músicas suas, e digo em alto e bom som: estamos em paz!


3 comentários:

  1. Excelente biografia, relato que muito bem elaborado. Com riqueza de detalhes. Vou ler e reler porque da gosto de saber que tenho um professor tão detalhista e apaixonado por música que se identifica comigo no seu total bom gosto. Parabéns Jorge

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    1. Neemi, muito obrigado por ler, e especialmente pelo retorno. Que bom que gostou. Realmente é importante sua opinião.

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  2. Uau... Incrível, obrigada por informação despercebida, e sem argamassa foi ótimo, gostei muito de saber da história, cheio de detalhes e emoções, obrigada pela conteúdo.

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